Ganesha simboliza a sabedoria, inteligência, amor, fertilidade e prosperidade. É o primeiro a ser invocado nas cerimônias para garantir o sucesso em qualquer empreendimento. Ele destrói todos os obstáculos materiais e espirituais. Os indianos dedicam à Ganesha o dia 9 de setembro para homenageá-lo (é feriado na Índia e as festividades duram uma semana)... veja "A História de Ganesha" postado no Blog em julho/2009

“O Yoga acredita em transformar o individual antes do universal.
Qualquer mudança que nós quisermos que aconteça fora de nós, deve primeiramente acontecer dentro de nós.
Se você caminha em paz e expressa esta paz em sua vida cotidiana, outros verão você e certamente aprenderão algo.”




quarta-feira, 26 de maio de 2010

FLOR DE LÓTUS – JÓIA RARA


Pureza, expansão espiritual, iluminação. Estes são os principais significados da flor de lótus, que nasce no lodo e consegue, graças a um mecanismo biológico especial, crescer, subir à superfície e permanecer limpa e bela.
Para muitos, o lótus é uma analogia ao caminho que o homem tem que enfrentar para purificar-se: vencer dificuldades e desafios para alcançar a pureza espiritual. Venerada por vários povos orientais, é um dos mais importantes símbolos do budismo e do hinduísmo.
A planta, que também é conhecida como lótus-egípcio, lótus-sagrado e lótus-da-índia, é da família das ninfáceas (mesma família da vitória-régia), nativa do sudeste da Ásia (Japão, Filipinas e Índia).
No Egito antigo, existiam as espécies, branca, azul e rosa. Para esta civilização, a planta também tinha um significado especial, pois ao nascer, ela se volta para o sol, como se estivesse homenageando-o e, ao anoitecer, se fecha e submerge na água. Para os egípcios, é um símbolo de renascimento.
Na Índia, a imagem da flor está relacionada à criação do universo. Reparem nas gravuras indianas, os deuses costumam aparecer sentados ou em pé sobre a flor, como é o caso de algumas representações de Ganesha, Lakshmi e Shiva.





Conta-se que quando Brahma, o criador, brota do ventre de Vishnu, e cria (ou recria) o mundo em um instante, ele está sobre uma flor de lótus, que é sua matriz ou berço. A explicação é que a flor seria a própria imagem da existência, o primeiro símbolo. A pureza da criação.


PADMASANA E O LÓTUS

Padma em sânscrito é lótus, representa a pureza e o pleno desenvolvimento da consciência. Padmasana, a postura do Lótus, é considerado um eficiente âsana para a meditação. Segundo Yesudian: “Tanto como o lótus, em sua pureza de neve, imaculado, intocado, flutua sobre as águas do pântano, da mesma forma, sem ser atingido pelos desejos carnais, o espírito puro do Yoguin plana além das tentações dos instintos físicos inferiores. Esta postura é comparável ao equilíbrio total e ao isolamento da Flor de Lótus.
Padma é também um dos nomes de Lakshmi que é a Shakti de Vishnu.


O MANTRA:
OM MANI PADME HUM
OM – A JÓIA NO LÓTUS – HUM

Tradução: “A jóia da consciência está no coração do lótus”
Avaloketeshwara é considerado um ser espiritual que alcançou um nível espiritual muito elevado. Quando estava neste estágio de espiritualidade, prestes a deixar a humanidade e entrar em outro nível do ser, ele ouviu um forte gemido atrás de si. Virando-se, viu o inconsciente coletivo da humanidade começando a lamentar a perda de sua presença. Tomado de compaixão, ele decidiu adiar esta etapa final da iluminação. Essa decisão tornou-se o juramento Bodhisattva, o juramento de servir a todas as formas de vida. A disciplina espiritual que faz uso deste célebre mantra é empregada para promover a idéia de desenvolvimento espiritual associado ao ato de servir á vida.
Este é considerado o Mantra para promover a compaixão amorosa em nosso ser.

Andreza Plais

PAUSAS

Os Domingos Precisam de Feriados...

Toda Sexta-feira à noite começa o Shabat para a tradição judaica.
Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino no sétimo dia da Criação.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.

A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa.
Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje , o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão
e alienação.

Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações para não nos ocuparmos.
A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.
Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo...
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme.

As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim. Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais
rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa.
O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.
As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o Domingo de um feriado...
Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?

Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.
Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...
Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair
literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida.

A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é: o que vamos fazer hoje? Já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo.

Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente.
É este o grande 'radical livre' que envelhece nossa alegria - o
sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares.
A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois.
A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas.

Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.

Afinal, por que o Criador descansou?
Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.

Rabino Nilton Bonder

segunda-feira, 24 de maio de 2010

"Tem certas coisas que não podem ser ajudadas, tem que acontecer de dentro para fora" Isto é Dhyana, isto é meditar!

GUIA POSTURAL




ADHO MUKHA SVANASANA – Postura do cachorro olhando para baixo

COMO FAZER: Apóie as mãos, joelhos e pés no chão, espalme bem os dedos das mãos; Distribua o peso por todos os dedos das mãos sobretudo indicador e polegar; Na inspiração empurre o chão para a frente e eleve os joelhos do solo esticando as pernas e erguendo o quadril em direção ao teto; Mantenha o abdômen contraído, enfatizando o fechamento das costelas;
Transfira o centro de gravidade para trás; A perna pode estar flexionada caso você ainda esteja conquistando o alongamento da parte de trás das pernas.

BENEFICIOS:
Melhora a artrite dos ombros; elimina rigidez das omoplatas; reforça tornozelos e modela as pernas; reforça os músculos abdominais e promove um alongamento do corpo. Ativa a circulação sanguínea e combate a depressão, melhora a respiração e acalma a mente. Remove a fadiga e revigora a energia do corpo.
Rejuvenesce as células do cérebro, exerce a ação sedativa no organismo; regulariza o ritmo cardíaco, alivia insônia e dor de cabeça. Pode ser realizada por pessoas com pressão alta.

Tempo é (muito mais que) dinheiro




Texto de Tales Nunes

Acostumamos a perguntar aos outros “oi, tudo bem?”, mais por conveniência do que realmente por interesse. Mas se nos atentarmos às repostas que obtemos com esta pergunta notaremos que a frase mais comum de se escutar é: “ na correria”, “cheio de coisa”, “na luta”. Essas frases têm um pano de fundo em comum. Por mais que a resposta indique que a pessoa está bem, indica também que ela está sem tempo, que está fazendo muita coisa, que está correndo atrás de coisas, resolvendo problemas.

Parece que estamos sempre em débito em relação a quantidade de tempo que temos disponível. Por mais que a nossa conta bancária esteja positiva, em troca, a nossa conta de tempo parece ser sempre negativa. De segunda a sexta-feira, são os dias úteis. Sábado e domingo, que deveriam ser dedicados a contemplação, ao lazer, mas cada vez menos o são, são dias inúteis? O lazer, a contemplação, o tempo com a família são inúteis? Quem colocou isso na nossa cabeça?

Hoje em dia somos educados e estimulados a sermos bons profissionais, a ganharmos dinheiro, a consumirmos, a pouparmos, a garantirmos uma segurança material, a competirmos. Porém, não somos ensinados a usar o nosso tempo para sermos bons pais, bons filhos, bons cidadãos. Todos nós já temos internamente um sentimento de inadequação e de insegurança e a tendência de nos compararmos com outras pessoas. Quando crianças, somos totalmente dependentes dos outros. Olhamos para nós mesmos e nos sentimos incapazes, pois nos comparamos com os adultos. Então olhamos para os nossos pais e depositamos a nossa confiança neles, na nossa cabeça eles são infalíveis. E à medida que o tempo passa, vemos que os nossos pais são falíveis e limitados, como nós. E com isso, perdemos a capacidade de confiar nas pessoas e até em nós mesmos.

Então depositamos a nossa confiança em super heróis, em astros de rock ou em um deus sentado em algum lugar, enquanto esse sentimento de inadequação e de insegurança nos acompanha quando adultos. Esses fatores psicológicos, individuais, aliados ao estímulo a competição e a nossa exposição constante ao paradoxo: consumo x poupança, impulsiona-nos a dedicar os nossos esforços quase que automáticos em trabalhos, com o objetivo de adquirir coisas e de mantê-las. Nós somos bombardeados por propagandas que nos estimulam a comprar, comprar, comprar para sermos felizes e, por outro lado, outras que dizem que devemos poupar, poupar, poupar para termos segurança futura.

Vivemos em meio a conflito de auto-imagem, ansiedades e medos que nos fazem correr, correr, correr. E nesse correr, nessa falta de tempo, não conseguimos apreciar a nossa família, os filhos, pais, irmãos. Temos cada vez mais dificuldade em apreciar a infância dos filhos, a velhice dos pais, o companheirismo dos irmãos, a companhia dos amigos. A nossa ansiedade com o futuro, insegurança financeira, medo de perder o que se adquiriu e o desejo de adquirir mais, faz com que apliquemos o nosso tempo de maneira muito pouco econômica e equivocada. E essa falta de discernimento nos separa de coisas extremamente importantes, como a família, amizades, o autoconhecimento, o engajamento social. Não nego aqui a correria como uma busca real por subsistência, especialmente em nosso país com tantas desigualdades sociais. Porém grande parte do mundo vive na correria, apesar de ter as suas necessidades básicas supridas.

O fato é que não vemos o tempo como um bem, vemos apenas o dinheiro como um bem. Se refletirmos, porém, veremos que o tempo está acima de todos os outros bens, uma vez que quando ele acaba, o resto não importa. E não se compra tempo. Seneca alertou aos romanos:

"Admiro-me quando vejo alguns pedindo tempo e aqueles a quem se pede serem complacentes; ambos consideram que o tempo pedido não é tempo mesmo: parece que nada é pedido e nada é dado. Joga-se com a coisa mais preciosa de todas, porém ela lhes escapa sem que percebam, já que é incorporal e algo que não está sob os olhos, por isso é considerada desprezível e nenhum valor lhe é dado. Os homens recebem pensões e aluguéis com prazer e concentram nessas coisas suas preocupações, esforços e cuidados. Ninguém valoriza o tempo, faz-se uso dele muito largamente como se fosse fortuito. Porém, quando doentes, se estão próximos da morte, jogam-se aos pés dos médicos. Ou, se temem a pena capital, estão preparados para gastar todos os seus bens para viver, tamanha é a confusão de seus sentimentos”. (Seneca)


Deveríamos ver o tempo como o maior de todos os bens. Assim, escolheríamos melhor com quem, com o que e onde iríamos gastar o nosso tempo. Gastar todo o tempo em busca de dinheiro pensando que vai nos trazer segurança é burrice, pois dificilmente nos sentiremos totalmente seguros. Essencialmente a insegurança está em nós e a idéia de segurança é relativa. Eu posso me sentir seguro tendo um carro e um apartamento, o meu vizinho talvez se sinta inseguro com dez apartamentos e uma conta bancária farta. De acordo com a revista britânica GEO de março de 2009, pesquisadores britânicos observaram por anos um grupo selecionado de 7.812 alemães e constataram que no primeiro ano após um aumento significativo de renda, houve um aumento na satisfação das pessoas. No segundo ano a mesma coisa. A partir do terceiro e quarto ano nenhuma satisfação a mais foi percebida. O Ved€nta já fala isso, mas as vezes precisamos de pesquisas para comprovar: a nossa felicidade não pode ser adquirida através das satisfações dos nossos desejos, porque assim que um desejo é saciado, outro surge, é sem fim. Foi justamente o que a pesquisa mostrou – guardadas as limitações de pesquisas desse porte, sugiro que constate esse fato na vida: com riqueza crescente, crescem também as exigências materiais das pessoas. É como uma bóia na maré alta.

Além disso, não temos como prever o amanhã. Mas igualmente não podemos negligenciar o futuro. Então, nos nossos cálculos diários, deveríamos colocar não apenas o dinheiro como um bem precioso, mas também o tempo. Talvez o maior presente que se possa dar a uma pessoa hoje em dia seja o tempo, mais do que qualquer outra coisa que o dinheiro possa trazer. Tempo junto, tempo de conversa, de presença. Apenas dando tempo a nós mesmos, dedicando-nos ao autoconhecimento, e também às pessoas ao nosso redor, especialmente às nossas crianças, talvez estejamos contribuindo de maneira muito mais eficaz para um futuro mais “seguro” para nós e para o planeta. Aproveite o tempo com as pessoas que estão ao seu lado, fazendo de cada momento algo precioso.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A NECESSIDADE DE SER FELIZ


TEXTO DE TALES NUNES

Todos nós possuímos desejos. Os desejos não surgem em nós misteriosamente, eles são cultivados. Primeiro surge um pensamento que é desenvolvido, alimentado e, como consequência, torna-se um desejo. Nós cultivamos desejos assim como cultivamos nossas plantas. Regamo-os e adubamos a terra para que eles ganhem força. Porém, quando necessitamos podá-los, não sabemos qual ferramenta usar, pois a plantinha virou uma árvore frondosa. E acabamos confundindo desejos com necessidades.

Desejos são cultivados, necessidades independem da nossa vontade ou da nossa contribuição consciente para existirem. A fome, por exemplo, não é um desejo, é uma necessidade. Todos nós sabemos disso. Poucos de nós reconhecemos, porém, que a felicidade é igualmente uma necessidade. E felicidade não é o oposto da tristeza, o oposto da tristeza, digo, é a alegria. Felicidade é plenitude. Todos nós temos uma necessidade interna de sermos felizes. Uma necessidade de sermos livres da limitação. Nós temos uma conclusão íntima de que somos limitados e queremos nos livrar dessa conclusão.

Se você tem um desejo, que é cultivado, você tem opção de realizá-lo ou não. E você pode não ter os meios de satisfazê-lo. Um montanhista precisa ter pernas e braços para escalar. Uma telefonista precisa escutar para executar o seu trabalho. Porém, se você possui um desejo que é natural, que não é cultivado, ele está fora do seu controle e, naturalmente, você possui os meios de realizá-lo. Assim é a ordem do Universo, se existe uma necessidade, há os meios de suprir essa necessidade. Você tem fome e a natureza lhe fornece os meios de supri-la; você precisa respirar e a natureza lhe provê o ar necessário; você sente sede, há água para saciá-la.

Sabemos o quão é difícil abrir mão de desejos quando estes estão estabelecidos. Das necessidades, por sua vez, não temos nenhuma liberdade para decidir que não vamos supri-las. Nós não podemos abrir mão de querermos ser pessoas, plenas, livres. Todos nós, por diferentes meios, buscamos a completude e a liberdade. Então, só temos uma opção: realizar essa necessidade. Pois, certamente a natureza nos proveu de todos os meios de realizarmos essa necessidade.

Podemos perguntar, então: de onde vem essa necessidade básica? Vem da nossa verdadeira natureza, que é de completude. Em diversos momentos das nossas vidas nós experimentamos a felicidade. E com essa lembrança interna seguimos em busca de uma experiência mais duradoura, achando que a encontraremos fora de nós. Não conseguimos reconhecer que o objeto exterior apenas fez com que relaxássemos e revelou a nossa real natureza.

Não reconhecendo essa felicidade dentro de nós, buscamos meios para realizar essa necessidade que não são eficientes. De tal maneira que podemos observar que nós continuamos buscando, buscando, buscando e parece que nunca alcançaremos a tão esperada felicidade. Isso acontece porque a felicidade não pode ser adquirida, ela já faz parte de nós. Todas as experiências que achamos que vão nos trazer completude, quando atingidas sentimo-nos realizados, porém a mente logo sente-se entediada e sai em busca de outra coisa. Observe esse processo acontecer e reconheça-o. Essa observação é fundamental no caminho do autoconhecimento.

Ao reconhecermos essa busca que parece não cessar, o que devemos fazer, abandonar a busca que é movida pela necessidade? Se é uma necessidade, não temos como abandonar, pois é natural. Mas ao mesmo tempo não conseguimos satisfazê-la. Então chegamos a um impasse. Não tenho como abandonar a necessidade de ser completo e não conheço os meios para satisfazê-la.

Analisando isso, nos sentimos desprotegidos, desamparados como uma criança. Temos uma profunda carência, mas fomos educados a não reconhecê-la e muito menos a pedir ajuda para resolvê-la. Então mascaramos esse sentimento com um ar de autoconfiança perante a maior parte das pessoas e o extravasamos em momentos de intimidade, nos relacionamentos mais próximos. E assim seguimos projetando a nossa completude em objetos, em realizações e nas pessoas que quebram a nossa armadura e conseguem se aproximar do ser carente que somos.

Qual a saída então? Adquirir coisas não é a solução. O que desejamos não é uma coisa. Felicidade é uma coisa? Felicidade, plenitude e liberdade não são coisas, não podem ser adquiridas por nós, pois já somos liberdade e felicidade. A felicidade está exatamente onde está o que nos aprisiona. Onde está o aprisionamento, na nossa testa? A testa não se sente pequena. Ela não tem complexo. Ela simplesmente é, assim como os animais. Animais não têm conflito com auto-imagem.

“Eu não sou bom o suficiente, eu sou limitado, sou infeliz” é uma conclusão que existe na idéia que nós temos de nós mesmos. Está na nossa mente. O que nos aprisiona e nos faz infelizes é a nossa própria mente. A liberdade não está fora de onde está o que nos aprisiona. Quantas pessoas na história da humanidade descobriram a liberdade e a felicidade dentro de uma cadeia! Portanto, a liberdade e a felicidade não estão fora, no amanhã, no céu, no pós-morte.

Descobrir é o que nós precisamos, já está tudo aqui, já possuímos tudo, não iremos produzir nada de novo dentro de nós. Para descobrir não é necessário fazer força, transformar, mudar, agir. Qualquer verbo que use para expressar o que é necessário não é totalmente adequado, porque não é uma ação que vai nos levar à felicidade. Talvez os verbos mais adequados a se usar sejam “relaxar” ou “entregar”. Mas relaxar não é uma ação, é uma atitude.


O que é necessário é uma mudança cognitiva, uma mudança na maneira como nos enxergamos e como enxergamos o mundo. Primeiro, é preciso reconhecer que nós não somos separados do Todo e que o mundo não é um ambiente hostil do qual precisamos nos defender. Tudo está dentro de uma Ordem perfeita e nós fazemos parte dessa Ordem. Segundo, é importante fazermos o que for o nosso dever para mudarmos em nós e no mundo o que for possível mudar, para contribuir com o Todo. Terceiro, é fundamental, para mantermos a nossa mente tranquila, abrirmos mão do controle e relaxarmos quanto ao resultado das nossas ações, pois o que recebemos como resultados delas é um grande mistério e faz parte de uma Ordem sobre a qual não temos controle.


Por fim, percebemos que a vida é um fluxo constante de transformações. Relaxados, conseguimos assistir a esse grande espetáculo com serenidade e contemplação, sem perdermos o nosso estado natural, que é de paz e felicidade. Para isso, precisamos abrir mão de uma auto-imagem estática, de nós e do mundo, construída desde muito tempo, e seguir o fluxo de transformação constante da vida. E como um rio que passa, passamos pela vida, com placidez e beleza, sem a necessidade de querermos sugar dos outros e das coisas a nossa felicidade, mas reconhecendo-a em nós mesmos. Quando reconhecemos a felicidade em nós mesmos, reconhecemo-a em todas as situações, até mesmo nos momentos de tristeza ou solidão. Então não somos mais aqueles que constantemente querem tirar do mundo, tornamo-nos aqueles que acrescentam ao mundo. Aqueles que ajudam os outros a suprir as suas necessidades, inclusive a de descobrir a felicidade.

AOS MESTRES

AOS MESTRES