Ganesha simboliza a sabedoria, inteligência, amor, fertilidade e prosperidade. É o primeiro a ser invocado nas cerimônias para garantir o sucesso em qualquer empreendimento. Ele destrói todos os obstáculos materiais e espirituais. Os indianos dedicam à Ganesha o dia 9 de setembro para homenageá-lo (é feriado na Índia e as festividades duram uma semana)... veja "A História de Ganesha" postado no Blog em julho/2009

“O Yoga acredita em transformar o individual antes do universal.
Qualquer mudança que nós quisermos que aconteça fora de nós, deve primeiramente acontecer dentro de nós.
Se você caminha em paz e expressa esta paz em sua vida cotidiana, outros verão você e certamente aprenderão algo.”




terça-feira, 17 de maio de 2011

Estou tão feliz por você!


O compositor Morrissey, da banda inglesa The Smiths, cantou: “We hate it when our friends are successful” (Nós odiamos quando nossos amigos se dão bem). Embora “odiar” seja exagerado, resta o fato cinza e “não tão secreto” de que, mesmo nos alegrando com a sorte de um amigo, frequentemente sentimos inveja e ciúme. Sentimos até mesmo uma alegria culpável na desgraça dos outros. Seu prazer em ler sobre os problemas de relacionamento de Jennifer Aniston ou as questões com a lei de Lindsay Lohan no entanto não é fenômeno moderno. Mais de 2 mil anos atrás, tanto Patañjali quanto Buda ensinaram a prática de mudita como um antídoto para o sentimento de que a felicidade é ameaçada ou diminuída pela felicidade dos outros. Mudita, o terceiro dos brahmaviharas, ou ensinamentos yóguicos de amor, é a habilidade de sentir alegria com a boa sorte ou boas ações dos outros.

No Yoga Sutra I.33, Patañjali nos aconselha a ter alegria na virtude de outros como uma maneira de desenvolver e manter a calma da mente. Você provavelmente já experimentou como a inveja pode ser dolorida, e quanto afeta seu bem-estar mental. Sua inveja não diminui a felicidade daqueles de quem você sente ciúme, mas afeta a sua serenidade.

O Dalai Lama fala de mudita como um tipo de “autointeresse esclarecido”. Segundo ele, há tantas pessoas no mundo que é razoável considerar a felicidade delas tão importante quanto a sua; se puder ser feliz quando boas coisas acontecem para os outros, suas oportunidades de alegria aumentarão um bilhão de vezes mais.

Esse é um ensinamento que tento manter em mente durante o dia. Recentemente fui buscar minha caixa de produtos semanais do programa de agricultura sustentável da comunidade à qual pertenço. Estava ansioso para comprar uma dúzia de ovos da fazenda que cria galinhas soltas e alimentadas com grama. Esses ovos são deliciosos, e preciosos, porque apenas um número limitado é oferecido por semana. Quando cheguei ao local, convidei duas mulheres que tinham chegado ao mesmo tempo que eu a entrar na fila na minha frente. Como você pode adivinhar, elas compraram as duas últimas dúzias de ovos! Eu podia sentir meu corpo começar a contrair quando percebi que não conseguiria comprar nenhum ovo. Sorri e pensei comigo mesmo, enquanto olhava para as duas mulheres: “Que vocês realmente apreciem esses ovos”. O impressionante é que antes mesmo de terminar o pensamento, senti o centro do coração expandir e um sentimento real de energia boa percorrer meu corpo.

A raiz da palavra sânscrita mudita significa estar contente, ter um sentimento de alegria, ou, como Patañjali é traduzido, estar encantado. Embora mudita seja frequentemente discutido como “alegria empática e altruísta” no contexto de superar a inveja da sorte dos outros, Thich Nhat Hanh, o mestre Zen vietnamita, aponta que há uma maneira diferente de pensar em mudita – que não depende de separar você dos outros. No livro Ensinamentos sobre o Amor (Editora Sextante), ele escreve: “Uma definição mais profunda da palavra mudita é uma alegria que é preenchida com paz e contentamento. Nós nos alegramos com a felicidade de outros, mas nos alegramos com nosso bem-estar também. Como podemos sentir alegria por outra pessoa quando não sentimos por nós mesmos?” Sentir contentamento por nós mesmos, entretanto, nem sempre é fácil.

PISTA DE OBSTÁCULOS
O fato é que o maior obstáculo para sentir alegria é a negatividade que mantemos em relação a nós mesmos e aos outros. Quando você se julga, compara-se a outros ou inveja os outros, perpetua um sentimento de solidão e deficiência. Pode ser difícil estar aberto para a alegria – por você ou por outra pessoa – porque ela está totalmente ligada a questões de automerecimento. Você pode realmente gostar de alguém, até sentir compaixão pelo sofrimento alheio, mas ainda sente inveja do sucesso dele. Então, claro, se sente mal por estar com inveja, e o círculo vicioso continua. Essa dança psicológica é o que torna mudita tão penosa. Você tem de sentir e conectar-se com seu interior para superar o sentimento de deficiência e abrir-se verdadeiramente para o contentamento. Talvez por ser tão difícil, mudita pode se tornar uma força poderosa de liberação, livrando-o do julgamento e da inveja e tirando o sentimento de isolamento e autoconstrição que eles criam.

Porque os obstáculos para a alegria são tão perniciosos, é importante estar alerta à presença deles quando aparecem. Se possui pensamentos julgadores sobre si mesmo, por exemplo, há chances de que esteja expandindo esses pensamentos aos outros. Pensamentos julgadores tornam a mente duramente apegada em como deveria pensar nas coisas – um obstáculo óbvio para o contentamento apreciativo. Mudita é não julgadora e permite que outros possam encontrar felicidade em coisas que você não consegue. Você pode aceitar que os outros talvez escolham viver a vida deles diferentemente de você e ainda se sentir feliz por eles? Pessoas que gostam de gatos, contadores, músicos itinerantes – talvez nenhum desses inclua você, mas se as pessoas são genuinamente felizes e não prejudicam a si mesmas ou a outros, mudita é a prática de compartilhar a felicidade delas.

Outro grande obstáculo para sentir contentamento é se comparar a outros, não importa se você se coloca como melhor, pior ou igual. Comparando-se, está olhando para os outros para definir a si mesmo. O espírito de mudita, e dos outros brahmaviharas, afirma que você merece ser feliz simplesmente porque você é, não porque é igual aos outros ou porque é mais esperto, mais rico, mais legal ou “melhor” que alguém. Quando acredita e entende essa verdade, você consegue ficar contente com a felicidade dos outros em vez de sentir-se ameaçado. Seu relacionamento com o mundo torna-se uma comunhão em vez de competição.

CAÇADOR DE ALEGRIA
Você pode criar as condições para se abrir para esse tipo de alegria na sua prática de asana, em meditação e durante o dia. Quando foco em mudita em minha prática de asana ou em minhas aulas, acho útil seguir o conselho do fundador do Anusara Yoga, John Friend, em “procurar o bom”. Procurando ativamente o que é certo, sendo em uma postura ou em qualquer experiência da vida, você neutraliza a tendência da mente em fixar no que é “errado”. Não é para negar que há experiências insatisfatórias e dolorosas na vida. Afinal, mudita é o terceiro brahmavihara, formulado para ser cultivado depois de metta, que pode ser visto como a aceitação sem julgamento do que é, e karuna, que transmite a abertura compassiva para qualquer problema físico, emocional, energético e mental que você experimente. Essa ordem não é arbitrária; não é possível sentir alegria verdadeira se está preso em aversão ou apego. Mas quando puder aceitar as coisas como são, no mat ou fora dele, você começará a colocar a atenção no aspecto prazeroso de sua experiência: o fluxo de energia se movendo pelo corpo quando você sai de uma parada de mão, o aroma fresco de uma brisa de chuva, o canto de um pássaro além de sua janela.

Experiências e sensações não têm necessariamente de ser positivas para nos trazer alegria; experiências neutras também ajudam a cultivar mais contentamento. Thich Nhat Hanh usa o exemplo do “sem dor de dente”. Quando você tem uma dor de dente, sabe que é desagradável e que não ter dor de dente é agradável. Mas agora você não percebe a “não dor de dente”, porque é neutro. Ao trazer a atenção para o fato de que seu dente não dói (ou, na verdade, nenhuma parte de você dói), você deve colocar um sorriso no rosto de apreciação. Com esse tipo de consciência, você tem acesso a uma nova categoria de experiências que pode nutrir uma alegria maior.

Um relaxamento longo e profundo é parte importante para cultivar contentamento na sua prática de asanas. Quando estiver em savasana, pode tocar várias partes do corpo com sua atenção amável. Por exemplo, traga atenção aos olhos enquanto inspira, mande a eles um sorriso interno e sinta gratidão e apreciação por eles enquanto expira. Gaste algumas respirações sorrindo para cada parte do corpo dessa maneira, especialmente para as partes com que estiver menos satisfeito, desenvolvendo uma alegria maior e apreciação mais profunda pelo que é.

Essa prática de cultivar apreciação e gratidão pode ser feita durante o dia. Uma de minhas alunas confidenciou que sua vida parecia vazia. Como parte de sua prática, pedi a ela que tomasse um tempo toda noite para fazer uma lista de cinco coisas que lhe trouxeram alegria naquele dia. Enfatizei que não precisavam ser “grandes coisas”, e que talvez uma criança sorrindo poderia trazer-lhe alguma alegria. No final de uma semana, ela me perguntou se tinha de limitar a lista a cinco coisas. Ela disse que havia descoberto que tinha muitas experiências de alegria, mesmo nos piores dias. Sem negar sua tristeza e o espírito pesado, ela foi capaz de ver que nem tudo era “cinza”.

AQUI HOJE
Contemplar a impermanência também melhora sua habilidade de alcançar a alegria. Tanto Patañjali como Buda enfatizam que muito de nosso duhkha (sofrimento ou descontentamento) aparece porque vivemos como se nossas condições atuais fossem permanentes. Quando as coisas vão bem, vivemos como se elas fossem permanentes, e ficamos desapontados quando elas mudam. E quando as coisas vão mal, imaginamos que sempre será dessa maneira, esquecendo que tempos ruins também passam. A consciência da natureza impermanente de todas as coisas, incluindo nós mesmos, nos deixa mais sensíveis para a natureza efervescente, alegre da experiência. Quando você está acordado para a impermanência, nunca toma as coisas nem as pessoas como certas. Você fica ligado ao que está acontecendo, sentindo a alegria de simplesmente estar desperto para a vida. Você pode apreciar o bom sem se apegar a isso, e fica mais resistente para enfrentar os contratempos porque lembra que, verdadeiramente, todas as coisas são impermanentes.

ALEGRIA CRESCENTE
A prática formal de mudita bhavana (cultivar alegria) da tradição Yoga budista celebra a felicidade de todos os seres, incluindo você! Na verdade, pela sua crescente compreensão na interdependente natureza do mundo, você percebe que a felicidade dos outros é na verdade sua felicidade. Comece lembrando sua bondade inata. Lembre-se de um tempo em que disse ou fez algo gentil, generoso, amável e carinhoso. Então comece a oferecer a você mesmo essas frases apreciativas e encorajadoras.

Que eu aprenda a apreciar a felicidade e a alegria que experimento.

Que a alegria que experimento continue e cresça.

Que eu seja preenchido com alegria e gratidão.

Claro, você é livre para inventar suas próprias frases, contanto que tenham uma intenção apreciativa. Enquanto envia esses desejos a si mesmo, abra-se para qualquer sentimento que apareça em seu corpo ou mente. Note qual – se existe alguma – reatividade é provocada pela prática. Não espere sentir instantaneamente uma grande alegria e apreciação. Às vezes, talvez tudo que observe é uma falta de apreciação e a reação julgadora da mente. Simplesmente note o que aparece, e retorne às frases com toda a cordialidade e compaixão que conseguir reunir. Depois de direcionar essas frases a si mesmo por um tempo, a sequência tradicional diz para direcionar para um benfeitor, alguém que o tenha inspirado ou oferecido ajuda de alguma maneira.

Que você experimente alegria, e que a sua felicidade continue.

Que você seja preenchido com apreciação pela felicidade e sucesso.

Que sua felicidade e boa sorte continuem.

Que você possa ter sucesso e encontrar-se com apreciação.

Seguido do benfeitor, a sequência vai para um ser amado ou amigo; então para uma pessoa neutra, definida como alguém que você mal conhece – talvez até um estranho por quem não tenha nenhum sentimento mais forte. Seguido dessa pessoa neutra, tente direcionar essas frases apreciativas para uma pessoa difícil em sua vida. Experimente sentir alegria e prazer na felicidade daqueles que você expulsou de seu coração.

Que sua felicidade e alegria aumentem.

Que a alegria em sua vida continue e cresça.

Que você possa ter sucesso e encontrar-se com apreciação.

Se ficar muito complicado enviar esses pensamentos para uma pessoa difícil, reconheça sem julgamento e volte a enviar as intenções para um ser amado ou para si mesmo. Confie que, com o tempo, seu coração expandirá para incluir mesmo aqueles por quem você sente ressentimento e inveja, porque entenderá de verdade que a alegria e o sucesso deles não ameaçam sua felicidade. Finalmente, envie essas frases para todos os seres do mundo. Imagine irradiar esses pensamentos positivos de seu ambiente próximo em todas as direções, enviando desejos apreciativos e cheios de alegrias para todos os seres existentes. Quando sentir-se pronto para terminar a meditação, tome um tempo para simplesmente ficar sentado com seus sentimentos e sua respiração, notando e honrando a experiência que teve, seja ela qual for.

O PODER DA FELICIDADE

Se você vive sua vida como se houvesse uma quantidade fixa de felicidade no mundo, é fácil entrar em um estado amargurado e ressentido de competição com os outros. Mas a felicidade não é uma mercadoria limitada que precisa ser racionada ou estocada. Não é como aqueles ovos frescos que perdi: não há chance de alguém pegar a última. Felicidade, como o amor, aumenta quando é compartilhada. Quando se sente verdadeiramente feliz pelos outros, sua própria felicidade aumenta junto, como Patañjali nos lembra, sua paz de espírito. O que é melhor, quando compartilha felicidade ou amor com todos os seres conscientes, pela natureza de sua própria consciência, você está incluso! Cultivar mudita é uma maneira de ganhar um entendimento mais verdadeiro, e permite a você aumentar sua própria alegria, exponencialmente.

Por: Frank Jude Boccio Tradução: Thays Biasetti
Fonte: Revista Prana Yoga

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