Texto de Rosana Biondillo
Em linhas gerais, quando falamos em Yoga, santosha é considerado um dos cinco niyamas, que compõem uma das etapas do sistema delineado por Patañjali - o Ashtanga Yoga. Sua tradução mais comum é contentamento - palavra que eu, particularmente, acho maravilhosa! Aliás, acho ambas maravilhosas: s-a-n-t-o-s-h-a (do original sânscrito) e c-o-n-t-e-n-t-a-m-e-n-t-o. Experimente falar devagar e pausadamente, sentindo atentamente cada letra, cada sílaba e cada som, que você vai saber o que quero dizer. Mas é claro que essas palavras não são magníficas apenas por sua pronúncia ou tradução, ou por suas qualidades estéticas, mas muito mais por seu significado implícito, pelo alcance incalculável que a percepção e a experiência concreta desse significado podem fazer despertar.
Quando se refere à prática de santosha como requisito ao discipulado no Yoga, Patañjali nos orienta em duas direções essenciais: a busca da realidade tal qual ela é e sua conseqüente aceitação para que a legítima transformação possa ocorrer. Para Patañjali, contentamento não significa passividade, concordância inquestionável ou permissividade. É muito mais uma sensibilidade para ver as coisas como são e não apenas como aparentemente se mostram ser ou, o que pode ser ainda mais dramático, vê-las de maneira distorcida sob a ação de fortes ressentimentos e conflitos interiores, fazendo com que haja uma veemente negação dessa realidade. Afastar-se da realidade, ou simplesmente não aceitá-la, não muda a natureza dos acontecimentos em si, mas apenas gera dependência, ilusões e decepções pessoais e sociais de proporções por vezes gigantescas.Ao falar em contentamento, a proposta original de Patañjali está intimamente ligada à superação das decisões e dos julgamentos baseados apenas na utilização de nossos cinco sentidos - audição, visão, olfato, paladar e tato -, que podem ser contraditórios e distorcidos, pois dependem fortemente de fatores e mecanismos externos para a realização plena de suas funções. Enxergamos o mundo com os olhos, ouvimos seus sons com os ouvidos e cheiramos seus aromas com o nariz, mas isso não significa que todos vejamos as mesmas coisas, ouçamos os mesmos sons e cheiremos os mesmos cheiros.
Aos fatores externos, Patañjali já sabia que a natureza interna de cada ser a esses se somava, que as experiências individuais são determinantes nas interpretações da realidade e que bem lá no fundo, só vemos o que podemos e queremos ver, só sentimos as fragrâncias que podemos e queremos sentir e só ouvimos o que podemos e queremos ouvir. Em resumo: só fazemos o que estamos equipados para fazer e só aceitamos o que podemos e queremos aceitar, mesmo que a custa de muita dor e sofrimento.
Para que mudanças possam ocorrer, devemos nos estabelecer no momento presente (muito mais o presente psicológico e não somente o cronológico), nem no passado e nem no futuro, e vivenciarmos sua totalidade. Mas que tipo de vivência, que tipo de existência, devemos buscar? Segundo Patañjali, uma que não apresente motivos para repetição do passado e nem para
antecipação do futuro, que seja um estado de viver no presente, que não seja nem imediatista e nem oportunista, que não alimente expectativas de resultados rápidos e fortuitos e que não dê a falsa idéia de que o esforço e a disciplina constantes são itens descartáveis. Para Patañjali, sem dúvida o esforço é primordial, mas também não deve ser apenas obrigatório, pois pode tornar-se pesaroso e desinteressante. Para ele, o esforço deve ter uma qualidade de disposição, de alegria, de bem-estar; deve ter um elemento de paixão, de energia, de constante, e, de preferência ininterrupto, c-o-n-t-e-n-t-a-m-e-n-t-o.
O sorriso do coração
Patañjali nos fala da importância dos hábitos e dos condicionamentos como cadeias reativas de comportamento. Para ele, nos comportamos de determinadas maneiras padronizadas devido aos hábitos fortemente enraizados tanto na fisiologia como no psiquismo humanos. Não pensamos antes de reagir porque parece que tudo sempre acontece muito rápido e também porque já estamos programados para agir de determinadas maneiras em determinadas situações, de forma meio inconsciente. Quem dirige em grandes cidades como São Paulo, por exemplo, sabe bem do que estou falando! É por isso que mudar determinados comportamentos e atitudes é tão difícil. Mas certamente não é impossível.
Para que as legítimas mudanças possam ocorrer, temos que procurar não apenas reagir às situações, mas implementar novos modelos de ação consciente. Ao invés de simplesmente esboçar uma reação automatizada em uma determinada situação, você pode propor uma nova ação - mais centrada, menos imediata e muito mais consciente. Ações conscientes não são meras e mesquinhas reações, embora não sejam nada fáceis de se realizar. Mas a dedicação e a intenção são fundamentais. É continuar firme no propósito apesar dos pesares. É colocar em prática os atributos de santosha, que não dependem de fatores e nem de situações externas para se manifestarem.
A sensação gostosa e tranqüila que vem de dentro, sem explicações, que parece nascer do nada, sem motivo aparente e sem razão de ser é puro contentamento. Aliás, não há razão para santosha, pois ele brota na alma e expressa o sorriso de um coração feliz. Quando seu coração sorri, isso é contentamento: é a alegria pela alegria, é a satisfação pela satisfação, é a emoção pela emoção, é a paz pela paz, é o ser pelo ser.Quando você se sentir contente e centrado no momento presente, apesar dos mensalões e furacões que avassalam nossa realidade mais imediata, quando seus lábios expressarem um leve e iluminado sorriso, e quando seus olhos brilharem apenas por brilhar, você estará em santosha - um estado onde não se fala com a voz da razão mas com a do coração, onde não se enxerga com os olhos do corpo mas com os da alma.
NAMASTÊ! Este Blog é destinado aos frequentadores e amigos do Espaço de Yoga Ganesha Shala. Aqui podemos trocar conhecimentos, experiências e informações sobre o universo do yoga. SEJA BEM VINDO!
Ganesha simboliza a sabedoria, inteligência, amor, fertilidade e prosperidade. É o primeiro a ser invocado nas cerimônias para garantir o sucesso em qualquer empreendimento. Ele destrói todos os obstáculos materiais e espirituais. Os indianos dedicam à Ganesha o dia 9 de setembro para homenageá-lo (é feriado na Índia e as festividades duram uma semana)... veja "A História de Ganesha" postado no Blog em julho/2009
“O Yoga acredita em transformar o individual antes do universal.
Qualquer mudança que nós quisermos que aconteça fora de nós, deve primeiramente acontecer dentro de nós.
Se você caminha em paz e expressa esta paz em sua vida cotidiana, outros verão você e certamente aprenderão algo.”
“O Yoga acredita em transformar o individual antes do universal.
Qualquer mudança que nós quisermos que aconteça fora de nós, deve primeiramente acontecer dentro de nós.
Se você caminha em paz e expressa esta paz em sua vida cotidiana, outros verão você e certamente aprenderão algo.”